Agente diz que 70% dos colegas fazem bico de segurança, ou 'estão na área de auxílio'
No Itaim-Bibi, zona sul paulistana, ter um policial à paisana na frente do restaurante custa ao comerciante cerca de R$ 150 por um turno de 12 horas. No mês, se o estabelecimento abrir todos os dias, o gasto é de R$ 4,5 mil. O investimento em segurança ainda inclui a compra e a manutenção de câmeras de vigilância, de empresa de monitoramento à distância e, se sobrar dinheiro, a contratação de mais homens fardados ou não.
Área do 15.º DP, o Itaim-Bibi concentra várias ocorrências de arrastão neste ano - o que faz aumentar a demanda por bicos.
"Tenho hoje dois policiais por dia, entre almoço e jantar. Cada um ganha R$ 150", conta o dono de um restaurante no bairro que, por medo de represálias, prefere não se identificar. Ele diz que, em média, cada policial, tanto civil como militar, pega três desses bicos por semana, já que a escala geralmente alterna um dia trabalhado com dois não. Ou seja, no fim do mês, pode receber até R$ 1,8 mil livres.
Nos Jardins, também na zona sul, um agente penitenciário que também não quis identificar-se reforça há duas semanas a segurança de restaurantes concentrados no cruzamento das Ruas Barão de Capanema e Padre João Manuel. "É por causa dessa história dos arrastões", confirmou.
A procura por policiais em horário de folga, segundo ele, tem feito com que "cerca de 70%" dos seus colegas estejam "nessa área de auxílio (segurança)". "A corporação está trabalhando, mas, como temos conhecimento de como agem maus elementos, acontece isso (a procura)."
O vice-presidente do Sindicato das Empresas de Segurança Privada (Sesvesp), João Palhuca, afirma que já recebeu denúncias de comerciantes que se sentiram constrangidos pelos policiais. "Eles oferecem (serviço) no calor do crime, quando não são os próprios policiais que estão atendendo a ocorrência", diz. "Isso prejudica empresas idôneas de segurança, a economia, a vida do cidadão. E, em uma situação em que o policial de folga 'em trabalho' reage, o bandido muitas vezes está no controle e atira antes", afirma.
Máfia. Para o jurista Wálter Maierovitch, a prática se assemelha aos métodos usados pela máfia italiana. "Vender proteção para as pessoas não serem assaltadas é característica comum aos mafiosos. É o que se verifica agora, especialmente nos bairros de São Paulo que concentram riqueza, como Jardins e Higienópolis", diz.
Segundo Maierovitch, há uma linha tênue entre a proteção que se quer vender e a extorsão. "É o mesmo de quando você estaciona na rua e é abordado por flanelinhas. Se não pagar, pode ter seu carro riscado e até roubado. Para mudar isso, só com planejamento policial e reforço todos os dias da semana, não apenas em datas festivas.
Fonte:Estadão
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