Grampos da inteligência estadual indicam que ação criminosa pretende desestabilizar a tropa e o comando da segurança pública
A análise de interceptações telefônicas feitas pela inteligência policial nos últimos dias já permite às autoridades afirmar que a ordem para os seis assassinatos de policiais ocorridos entre os dias 12 e 23 de junho partiu de integrantes do Primeiro Comando da Capital (PCC).
Grampos detectando a ordem foram interceptados pelo Departamento de Investigações sobre o Crime Organizado (Deic), pelo Departamento de Investigações sobre Narcóticos (Denarc) e pela Divisão Antissequestro (DAS) do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP). Em uma dessas escutas, revelada na terça pelo Estado, há o diálogo entre um traficante da zona leste e um homem não identificado. O criminoso dizia: "Libera os meninos para sentar o pau nos polícia".
De acordo com as investigações, o objetivo das ações é desestabilizar a tropa policial e a cúpula da segurança em São Paulo. Nas investigações, não apareceram indícios de que a facção tenha ordenado os incêndios a ônibus, que somaram 11 nesta semana. Conforme o Estado mostrou no sábado, 30, moradores do Capão Redondo, na zona sul, afirmaram que os ataques a transporte público eram uma reação à violência policial.
Um dos autores do atentado a um ônibus queimado no bairro usava a camisa com os dizeres: "si continua matando, nós continua queimando". Ao contrário do que ocorreu em 2006, quando policiais militares foram mortos durante o serviço, a estratégia desta vez é matar os policiais quando eles estão de folga ou trabalhando em bicos. As Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar (Rota) são apontadas como o principal inimigo.
Integrantes das Polícias Civil e Militar, que atuam nos territórios do crime organizado, seriam tolerados por firmarem "acordos" de convivência pacífica com os traficantes, inclusive de pagamento de propina. Mas a ação violenta de policiais da Rota desfaz esse equilíbrio e por isso provocou a reação mais recente dos bandidos.
A frieza e o planejamento dos homicidas já haviam chamado a atenção dos PMs que testemunharam a morte dos colegas. No dia 12 de junho, o soldado Valdir Inocêncio dos Santos foi assassinado na frente do filho, de 21 anos, e do sobrinho, que observou o crime da fachada. No Instituto Médico-Legal (IML), a legista retirou 29 balas calibre 380 de seu corpo. Santos morreu nos braços da mãe.
O soldado estava dormindo no sofá da sala quando uma Saveiro bateu lentamente no portão de sua casa. Ele foi ver o que era. O motorista do carro saiu na direção de uma escola. O policial foi atrás, pedindo ao motorista para parar. Foi quando cinco homens saíram de trás dos muros e começaram os disparos. "Foi premeditada, assim como ocorreu nos outros assassinatos de policiais. Isso mostra a ação do crime organizado por trás dos crimes. O soldado Valdir (Santos) era um policial exemplar. Quando reformou a casa, passou a ajudar a mulher a vender bijuteria para complementar a renda. Deixou três filhos e uma família em cacos, traumatizada com o episódio", diz o soldado Márcio Ramos, que trabalhou com Santos na Força Tática do 7.º Batalhão entre os anos de 1998 e 2002.
R$ 20 milhões. A análise da contabilidade de integrantes do PCC, apreendida há pelo menos três meses pela Polícia Civil, aponta que o faturamento mensal com comércio de drogas em São Paulo rende à cúpula da facção criminosa R$ 20 milhões. Segundo a inteligência policial, o tráfico lava o dinheiro arrecadado principalmente em agências de automóveis, postos de gasolina e lotações.
O Paraguai é o principal fornecedor de maconha do PCC. O plantio de maconha no país movimenta US$ 160 milhões. Investigações da Polícia Federal obtidas pelo Estado mostram que os membros do PCC no Paraguai se fixam principalmente nas cidades de Pedro Juan Caballero, Capitán Bado e Salto de Guaira, coincidentemente as cidades de reconhecida produção e travessia de drogas, principalmente maconha e cocaína. A facção conta com grandes fornecedores nesses locais, situação que permitiu ao grupo entrar no atacado das drogas em São Paulo.
Fonte:Estadão
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