quinta-feira, 23 de agosto de 2012

SP: Justiça adia depoimento de caseiro de donos de moto aquática


Muito abalada, Cirleide Lames foi ao Fórum de Bertioga falar sobre o acidente que matou sua filha, em fevereiro deste ano. Foto: Edson Lopes Jr./Terra
Muito abalada, Cirleide Lames foi ao Fórum de Bertioga falar sobre o acidente que matou sua filha, em fevereiro deste ano
Foto: Edson Lopes Jr./Terra
A Justiça de Bertioga, no litoral de São Paulo, ouviu, nesta quarta-feira, nove testemunhas do processo sobre a morte de Grazielly Lames, 3 anos. A criança morreu após ser atingida por uma moto aquática, pilotada por um adolescente, quando brincava na praia de Guaratuba, no dia 18 de fevereiro deste ano. Outras duas testemunhas consideradas chaves para o processo, o caseiro Erivaldo Francisco de Moura e a mulher dele, Mariléia Ferrão Oleastre, que trabalham na casa do proprietário do veículo, seriam ouvidas hoje, mas tiveram seus depoimentos adiados para a próxima quinta-feira (30).
A audiência, conduzida pelo juiz Rodrigo de Moura Jacob, já faz parte do julgamento dos três réus acusados de homicídio culposo (sem intenção de matar): o empresário José Augusto Cardoso Filho, padrinho do adolescente e proprietário da moto aquática; Thiago Veloso Lins, dono da marina onde ficava guardado o veículo; e o mecânico Ailton Bispo de Oliveira, que teria lubrificado a moto poucos dias antes do acidente. Por ser menor de idade, o adolescente, que na ocasião tinha 13 anos, responde a um processo sob sigilo da Justiça, na Vara da Infância e da Juventude.
A expectativa é que o julgamento só acabe em 2013, já que os três réus só serão ouvidos após a oitiva de todas as testemunhas, o que deve levar, no mínimo, mais quatro meses. Outras oito testemunhas que não vivem em Bertioga ainda precisam ser ouvidas por meio de cartas precatórias. Uma perita do caso também falaria nesta quarta-feira,mas seu depoimento foi adiado por motivos de saúde e não tem data para ocorrer.
O caseiro Erivaldo chegou a ser denunciado pelo Ministério Público de São Paulo como um dos culpados pelo acidente. Ele foi o responsável por colocar a moto na areia e prepará-la para uso, mas a Justiça não aceitou a denúncia por considerar que ele estava apenas cumprindo ordens. Mesmo assim, o depoimento do caseiro é um dos mais aguardados, já que a expectativa é que ele possa esclarecer alguns detalhes de como ocorreu a tragédia.
Depoimentos
A primeira testemunha a ser ouvida hoje foi a mãe de Grazielly, Cirleide Lames, que estava com a menina no momento do acidente. Bastante emocionada, ela foi orientada por seus advogados a deixar a audiência após o depoimento por estar em tratamento médico, devido ao trauma da perda da filha.
À Justiça, Cirleide contou o que já havia dito à polícia: que a moto estava em alta velocidade quando atingiu a criança e, nem o adolescente, nem a família dele prestaram socorro à menina. A mãe também lembrou que o resgate da Polícia Militar demorou mais de 40 minutos para chegar, além do hospital para onde ela foi levada não ter equipamentos para ajudá-la adequadamente. "Só esperamos que a justiça seja feita, para que nenhuma outra mãe passe pelo que eu estou passando", afirmou Cirleide, emocionada e amparada pelo marido, Gilson, ao deixar o Fórum.
Outro depoimento importante foi o do perito João Alves Neto, no Instituto de Criminalística de Santos, em São Paulo, que voltou a afirmar que a moto estava com uma peça importande oxidada (enferrujada) e que, devido a esse defeito, não poderia ter sido usada "de jeito nenhum". Segundo Alves Neto, o problema foi causado por falta de manutenção adequada no equipamento. "O veículo não estava apto a ser usado por conta do defeito. Não deveria ter sido usado de jeito nenhum", afirmou o perito, responsável pelo laudo da Polícia Científica. Ele constatou que uma peça chamada de "borboleta" estava oxidada, o que, na prática, fez com que o motor da moto aquática mantivesse uma aceleração anormal, o que contribuiu para o acidente. Em entrevista, o proprietário da marina negou ter culpa da manutenção e disse que não foi contratado para fazer a revisão do veículo.
Já o delegado Maurício Barbosa, do Distrito de Polícia de Bertioga, voltou a rebater, durante o depoimento, as críticas por ter concluído o inquérito sem ter indiciado nenhum responsável, antes de o inquérito ser transferido para a Seccional de Santos. "As investigações apontaram que o único responsável foi o adolescente, por isso, ninguém poderia ser indiciado", afirmou.
A Justiça ouviu ainda a tenente Roberta Lopes da Cruz Antônio, da Capitania dos Portos, que conduziu um inquérito administrativo sobre o caso e apontou 5 pessoas como responsáveis: os três réus e, ainda, a madrinha e a mãe do adolescente, por permitirem que ele pilotasse a moto aquática. O caso será julgado paralelamente pelo Tribunal Marítimo. Outras cinco testemunhas de defesa também foram ouvidas nesta quarta-feira.
Tragédia
Grazielly foi atropelada por uma moto aquática na praia de Guaratuba, em Bertioga, enquanto brincava na areia ao lado da família, que mora no município de Artur Nogueira (São Paulo), mas passava o Carnaval no litoral. Segundo testemunhas, um adolescente pilotava a moto aquática em alta velocidade. A menina foi socorrida pelo helicóptero da Polícia Militar, mas não resistiu aos ferimentos e morreu. Ainda de acordo com testemunhas, os responsáveis pelo acidente não prestaram socorro.
A pena para homicídio culposo varia de um a três anos de detenção, e para lesão corporal culposa, de dois meses a um ano de prisão. O aumento de pena previsto no Código Penal é de um terço, conforme pedido na denúncia.
Fonte:Terra

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