A Pesquisa Nacional do NEV-USP, por amostragem domiciliar, sobre atitudes, normas culturais e valores em relação à violação dos direitos humanos e violência – 2010, realizada em 11 capitais brasileiras, analisou o percentual de indivíduos que bateriam no filho em determinadas situações, discriminadas a seguir; houve um crescimento entre 1999 e 2010: mentir (2,2% para 6,1%), furtar (9,9% para 15,9%), faltar na aula (3,2% para 6%), fazer bagunça na escola (2,8% para 4,8), grafitar (12,6% para 14%), fumar maconha (9% para 15,2%) e ficar fora de casa até altas horas (2,2% para 5,6%).
Do mesmo modo, os castigos corretivos (como deixar o filho sem televisão, por exemplo) nessas situações aumentaram. Em contrapartida, os percentuais dos entrevistados que conversariam com o filho para entender o que o levou a fazer aquilo ou dos que buscariam ajuda profissional diminuíram nessa década. Em lugar do diálogo, a violência. Em lugar da civilização, a barbárie.
Referida pesquisa ainda apontou que 70,5% dos 4.025 entrevistados apanharam quando eram crianças.
Apesar de se tratar de um percentual inferior ao apresentado em 1999, quando 79,6% dos ouvidos afirmaram que apanharam na infância, ainda atinge uma parcela absolutamente expressiva da população. Considerados então os que apanhavam todos os dias, o resultado foi de 20% dos entrevistados. As formas de castigo físico que serviram de base foram a palmada, o uso do chinelo, da vara ou cinto, do pau ou outro objeto duro.
A pesquisa apontou também que aqueles que apanhavam com mais frequência eram castigados com instrumentos com maior percentual de dano. Ou seja, dos que apanhavam todo dia ou toda semana, por exemplo, 68,8% eram castigadoscom cinto ou vara, enquanto que dentre os que apanhavam em poucas ocasiões, 52,7% apanhavam com chinelo.
Outra constatação estarrecedora foi a de que os indivíduos que sofreram punição corporal na infância têm maior chance de adotar a violência como forma de linguagem em situações do cotidiano, com seus filhos ou com terceiros, se colocando, inclusive em situação de mais vulnerabilidade.
O uso da violência em nossa sociedade é “legitimado” desde a infância, como corretivo aos primeiros desvios, incutindo no indivíduo a ideia de que a melhor maneira de se lidar com a transgressão é o castigo corporal, a repressão, que isso irá regenerar e educar o transgressor, sustentando um ciclo de abusos e de agressividade sem fim.
*LFG
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