terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

Segundo dia do júri de Gil Rugai terá depoimento de delegado do caso


O delegado que investigou os assassinatos de Luiz Carlos Rugai e Alessandra de Fátima Troitino, em 2004, e um aviador amigo do empresário serão as duas testemunhas de acusação que serão ouvidas nesta terça-feira (19), no segundo dia de júri do ex-seminarista Gil Rugai, 29. O juiz do caso, Adílson Simoni, espera ouvir ainda duas ou três testemunhas das nove arroladas pela defesa, já que tanto o delegado Rodolfo Chiareli quanto o aviador Alberto Bazaia Neto completam o grupo arrolado pela acusação.
Chiareli investigou o caso pelo DHPP (Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa) e indiciou Rugai pelos crimes de homicídio. Já Bazaia Neto disse, em depoimento, que era amigo do empresário e que teria ouvido, dois dias antes do crime, que ele tinha medo do próprio filho e estava tomando medidas de segurança para proteger a si e à mulher --no caso, a troca de fechaduras.
Segundo a acusação, o empresário havia descoberto um desfalque na produtora de que era dono e na qual o filho trabalhava pelo departamento financeiro. Conforme o aviador, o amigo teria confidenciado que na segunda-feira, dia 29 de março –um dia depois do crime--, tomaria medidas judiciais contra o filho, a quem, inclusive, teria comunicado a decisão.
Para o criminalista Luiz Flávio Gomes, que acompanhou o primeiro dia de depoimentos no Tribunal do Júri, nessa segunda-feira (18), o depoimento do delegado "é sumamente relevante". "A fala do delegado é muito importante, eu diria que sumamente relevante, pois ele teve contato com todas as provas que instruem o processo", disse.
Para o criminalista, o segundo dia é também uma espécie de desafio à resistência dos jurados --neste caso, após sorteio, composto por cinco homens e duas mulheres.
"O primeiro dia de júri é algo como uma lua de mel em que os jurados veem os ângulos do caso; existe uma compreensão e uma mente muito mais aberta. A partir do segundo dia, o período da tarde vai ficando enfadonho, pois testa muito mais a resistência deles", avaliou.

Primeiro dia

Ontem, ao logo de cerca de oito horas, foram ouvidas as três primeiras testemunhas arroladas pela acusação: o vigia que confirmou ter visto Rugai deixar a cena do crime, o médico legista que fez exame no pé de Rugai --o jovem é acusado de arrombar a porta da sala onde o pai se escondia-- e o perito do IC (Instituto de Criminalística) que confirmou que as marcas na porta eram de um chute do pé do réu.
A exploração de contradições de uma testemunha considerada chave por defesa e acusação, a afirmação de que o réu estava no local do crime e a tentativa de desconstrução de provas técnicas marcaram o primeiro dia do júri popular do ex-seminarista.

PROMOTORIA E DEFESA FALAM


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  • Testemunha é vacilante, diz advogado de Rugai
Protegido durante seis anos pelo programa de proteção à testemunha, o vigia que afirmou nas investigações ter visto Rugai deixar o local do crime com um homem não identificado confirmou a versão em juízo. Segundo ele, a dupla atravessou a rua cerca de 20 minutos após barulho de tiros. O casal foi assassinado a tiros de pistola calibre 380 --arma apreendida anos depois dos homicídios em uma caixa de retenção do prédio onde Rugai trabalhava.
Entretanto, inquirido pela defesa do réu, o vigia se atrapalhou em detalhes sobre as vestimentas que Rugai trajaria e na distância em que ele se encontraria do acusado.
A polícia apontou que o assassino abriu a porta da sala onde as vítimas tentaram se proteger com o pé. Durante as investigações, a conclusão do IC (Instituto de Criminalística) se valeu de laudo médico assinado por Munhoz para afirmar que as marcas de pé na porta da sala onde o empresário foi encontrado morto eram compatíveis com a do filho. Conforme Munhoz, Gil Rugai possuía um edema ósseo no pé direito, do tipo agudo, típico de uma situação de trauma.
Segundo o especialista, esse tipo de contusão pode ser detectada por meio de ressonância magnética até várias semanas após o trauma. Indagado pelo promotor do caso, Rogério Zagallo, se Rugai havia relatado algum tipo de trauma nos últimos meses na época do crime, o perito negou.
Já o perito do IC (Instituto de Criminalística), Adriano Yssamu Yonanime disse que a marca de pé encontrada na sala onde o pai do jovem foi morto, há cerca de nove anos, "encaixa perfeitamente" na imagem sobreposta do pé direito do jovem. No entanto, a defesa se dedicou a tentar desqualificar o depoimento do perito.
Um dos principais aspectos explorados foi a apresentação de um vídeo feito pelo instituto de biomecânica da USP, que utiliza técnica de realidade virtual, para simular como o ex-seminarista teria chutado a porta do cômodo em que estava seu pai.
No vídeo, a impressão plantar de um pé um direito se sobrepõe a imagem de um sapato que calçaria um pé esquerdo. A sobreposição da imagem do pé e do calçado foi um dos principais argumentos usados pelo perito para comprovar que quem chutou a porta no dia do crime teria sido mesmo Gil Rugai.
Em julgamento, o perito admitiu que pode ter ocorrido um lapso na produção do vídeo. No entanto, ele disse que no laudo processual consta a imagem correta.

Entenda o caso

O ex-seminarista Gil Rugai, 29, é acusado de tramar e executar a morte do pai, o empresário Luiz Carlos Rugai, 40, e da madrasta, Alessandra de Fátima Troitino, 33, em 28 de março de 2004. O casal foi encontrado morto a tiros na residência onde morava no bairro Perdizes, zona oeste de São Paulo.

Durante as perícias do crime foram encontrados indícios que, segundo a acusação, apontam Gil Rugai como o autor do crime. Um deles foi o exame da marca de pé deixada pelo assassino numa porta ao tentar entrar na sala onde Luiz Carlos tentou se proteger.
Segundo a acusação, o crime foi motivado pelo afastamento de Gil Rugai da empresa do pai, a Referência Filmes. O ex-seminarista estaria envolvido em um desfalque de R$ 100 mil e, por isso, teria sido demitido do departamento financeiro.
O IC realizou exames de ressonância magnética no pé de Rugai e constatou que havia lesões compatíveis com a marca na porta.
Outra prova que será apresentada pela acusação foi uma arma encontrada, um ano e meio após o crime, no poço de armazenamento de água da chuva do prédio onde Gil Rugai tinha uma agência de publicidade.
O exame de balística confirmou que as nove cápsulas encontradas junto aos corpos do empresário e da mulher partiram dessa pistola. O sócio de Rugai afirmou que ele mantinha uma arma idêntica em uma gaveta da agência de publicidade e que não a teria visto mais lá no dia seguinte aos assassinatos.
Gil Rugai chegou a ser preso duas vezes, mas foi solto por decisões da Justiça.

Uol


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