quinta-feira, 20 de junho de 2013

Especialistas dizem que PM teve atitude equivocada durante protestos pelo país1

Uma semana depois dos primeiros choques entre manifestantes e policiais, o especialista em segurança pública Marcos Rolim avaliou que o principal desafio das PMs em todo o país é restabelecer a confiança da população para evitar novos episódios de violência.
"A ampla maioria dos manifestantes e da população é contra as depredações, mas a ação policial dos primeiros dias acabou rompendo os laços de confiança com a sociedade. É preciso recuperá-los", disse Rolim aoUOL nesta quarta-feira (19).
Após um rastro de violência durante os protestos, criticado pela imprensa e até pelo governo, a atitude das forças de segurança foi alterada. A estratégia, depois dos excessos de alguns PMs, foi deixar os manifestantes seguirem o caminho que quiserem e só intervir em caso de risco à integridade física das pessoas.

Segundo Rolim, a estratégia está errada: "A PM deve ter pronta capacidade de resposta quando precisar intervir. É claro que não terá ficando distante das passeatas para evitar provocações. Na minha opinião, a polícia deveria acompanhar as manifestações pelas margens, com agentes identificados e instruídos a intervir apenas em casos pontuais de dano ou risco à integridade das pessoas", recomendou.

Em Porto Alegre, uma manifestação que reuniu mais de 10 mil pessoas na noite de segunda-feira (17) terminou em confronto e de predações, depois que os ativistas tentaram acessar a avenida Ipiranga, na região central da cidade. Bombas de gás e balas de borracha foram usadas para conter a multidão, que acabou incendiando um ônibus, danificando outros seis e destruindo mais de 50 contêineres de coleta de lixo. Durante a passeata propriamente dita, a polícia acompanhou o trajeto de longe.
Em São Paulo, na terça-feira (18), mais de 50 mil pessoas marcharam por várias regiões da cidade sem incidentes. A PM acompanhou de longe e só interveio quando um grupo tentou invadir o Palácio dos Bandeirantes, sede do governo paulista. No dia seguinte, a marcha foi marcada por saques por parte de vândalos, também sem intervenção imediata da polícia.
Guaracy Mingardi, membro do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, também criticou a estratégia da polícia de intervir apenas nos casos de risco iminente. Para ele, é preciso ter uma polícia "controlada e treinada" para evitar excessos sem cometer excessos.
"Combater excesso da polícia é controle, é mandar a mensagem certa, é avisar que será processado se passar de um limite determinado. Mas tem que ter apoio político para isso e dar condições para o policial trabalhar. Se ele simplesmente achar que tem que resolver com violência e que não tem outro jeito, a coisa fica complicada", explicou.
Para José Vicente da Silva Filho, que foi coronel da Polícia Militar de São Paulo e atualmente é professor da Academia da PM de São Paulo, o confronto com os manifestantes muitas vezes é inevitável. Para ele, mesmo se o ponto da abordagem mudar, os resultados acabarão sendo similares.
"Não vejo como os conflitos possam ser evitados. No caso de São Paulo, a PM não tinha outra saída a não ser impedir o avanço dos manifestantes na rua da Consolação. Os manifestantes haviam descumprido um acordo, por isso foi preciso dispersar o grupo. A força empregada foi compatível com o problema", disse Silva Filho.
Segundo o coronel, mesmo treinados para resistir a provocações, os policiais são pessoas que podem se descontrolar e, eventualmente, cometer abusos. Para Silva Filho, acompanhar as passeatas de longe é a alternativa "mais compatível" com o acirramento dos ânimos do atual movimento para redução de tarifas.
UOL

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