Foto: Janaína Maciel/Especial para a AAN
População de rua reunida sob o Cury, em busca de abrigo e comida
População de rua reunida sob o Cury, em busca de abrigo e comida
Naquele ponto de Campinas, homens e mulheres magérrimos, maltrapilhos, se esparramam pela calçada à espera do prato de sopa. A fome é grande. A desesperança está estampada em cada rosto. E os canteiros, no entorno do Viaduto Cury, se tornam moradia de quem não tem para onde ir. O cenário degradante, no entanto, há muito tempo deixou de denunciar apenas mazelas sociais. Hoje, o vício, a violência e o vandalismo são a cara de uma Campinas insegura, que sente medo e pede socorro. Que o diga campineiros que trabalham por ali. Cerca de 20 comerciantes regularmente instalados na alameda de hortifrútis sob o viaduto convivem com a vizinhança de aspecto agressivo. Os clientes que chegam passam por uma calçada repleta de famintos, enrolados em cobertores velhos. E, nos acessos ao Terminal Central, a cena é assustadora. Rapazes entorpecidos pelo crack perambulam pelos canteiros. À noite, quando o comércio baixa as portas, o trecho todo (entre a Praça Felipe Selhi e a Avenida Prefeito José Nicolau Ludgero Maselli) se torna uma terra sem lei.
Valdecir Julião conta que se estabeleceu por ali em 1978, exatamente no ano em que as bancas começaram a ser instaladas. Vendia arroz, batatas, cebola. Mas a decadência do terminal mudou o perfil dos consumidores. Para sobreviver, hoje Julião vende pasteis e refrigerantes.
“A gente está cercado, o dia inteiro, por um monte de gente estranha. No meio deles há vândalos, consumidores de drogas. E não adianta presença de guardas ou policiais. Essa turma tem o aval do poder público para continuar aqui, à espera do almoço oferecido pela Casa da Cidadania. O que eu sei é que os comerciantes legalmente estabelecidos só amargam prejuízo, e não têm mais a quem recorrer”, fala. “A gente trabalha duro, paga impostos. E merece mais respeito.”
Marcos Cucculi, que preside uma associação de comerciantes estabelecidos na alameda de bancas sob o viaduto, conta que cada pequeno empresário espera por soluções prometidas há muito tempo pelo poder público, um mandato atrás do outro: “Todo mundo sonha com um espaço revitalizado, bem cuidado, bem frequentado. Na verdade, os consumidores passam longe de um lugar desorganizado, imundo, decadente. Podia ser tudo muito diferente.”
No final da alameda, onde a Prefeitura promoveu a demolição de bancas irregulares, todo o terreno é tomado por moradores de rua, que se deitam nos cantos e só levantam do chão para comer ou se abrigar na vizinha Casa da Cidadania.
Assistencialismo
Quem se estabeleceu no entorno do viaduto também reclama muito. Como Wesley Souza Santos, dono de uma loja de autopeças. Ele reclama que, diariamente, fezes e urina se amontoam na porta do estabelecimento.
“À noite, é no canteiro que essa gente se alimenta, dorme, defeca, usa drogas. É um grupo de criaturas largadas. Elas precisam ser levadas daqui, tratadas. Não dá mais para aguentar tanta decadência humana”, diz.
Santos reconhece, sim, que existe gente de fato necessitada, que anda por ali à espera de comida. Mas a presença de delinquentes é cada vez maior, e por uma razão bem simples.
“Grupos de religiosos e cidadãos beneméritos com seus carrões param por ali e distribuem roupas, comida, esmola. Tem bacana que se fotografa dando comida a um pobre. Por conta do assistencialismo barato, Campinas sustenta gente desonesta e deixa de ajudar quem realmente precisa”, reclama. “Uns fazem caridade. Outros só querem aparecer. E muita gente desocupada se aproveita.”
Valdecir Julião conta que se estabeleceu por ali em 1978, exatamente no ano em que as bancas começaram a ser instaladas. Vendia arroz, batatas, cebola. Mas a decadência do terminal mudou o perfil dos consumidores. Para sobreviver, hoje Julião vende pasteis e refrigerantes.
“A gente está cercado, o dia inteiro, por um monte de gente estranha. No meio deles há vândalos, consumidores de drogas. E não adianta presença de guardas ou policiais. Essa turma tem o aval do poder público para continuar aqui, à espera do almoço oferecido pela Casa da Cidadania. O que eu sei é que os comerciantes legalmente estabelecidos só amargam prejuízo, e não têm mais a quem recorrer”, fala. “A gente trabalha duro, paga impostos. E merece mais respeito.”
Marcos Cucculi, que preside uma associação de comerciantes estabelecidos na alameda de bancas sob o viaduto, conta que cada pequeno empresário espera por soluções prometidas há muito tempo pelo poder público, um mandato atrás do outro: “Todo mundo sonha com um espaço revitalizado, bem cuidado, bem frequentado. Na verdade, os consumidores passam longe de um lugar desorganizado, imundo, decadente. Podia ser tudo muito diferente.”
No final da alameda, onde a Prefeitura promoveu a demolição de bancas irregulares, todo o terreno é tomado por moradores de rua, que se deitam nos cantos e só levantam do chão para comer ou se abrigar na vizinha Casa da Cidadania.
Assistencialismo
Quem se estabeleceu no entorno do viaduto também reclama muito. Como Wesley Souza Santos, dono de uma loja de autopeças. Ele reclama que, diariamente, fezes e urina se amontoam na porta do estabelecimento.
“À noite, é no canteiro que essa gente se alimenta, dorme, defeca, usa drogas. É um grupo de criaturas largadas. Elas precisam ser levadas daqui, tratadas. Não dá mais para aguentar tanta decadência humana”, diz.
Santos reconhece, sim, que existe gente de fato necessitada, que anda por ali à espera de comida. Mas a presença de delinquentes é cada vez maior, e por uma razão bem simples.
“Grupos de religiosos e cidadãos beneméritos com seus carrões param por ali e distribuem roupas, comida, esmola. Tem bacana que se fotografa dando comida a um pobre. Por conta do assistencialismo barato, Campinas sustenta gente desonesta e deixa de ajudar quem realmente precisa”, reclama. “Uns fazem caridade. Outros só querem aparecer. E muita gente desocupada se aproveita.”
IG
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