segunda-feira, 27 de maio de 2013

Estupros em locais públicos expõem divisões de classe


Autoridades parecem mais preocupadas em defender a imagem internacional e as classes privilegiadas da cidade do que em proteger mulheres em geral


A recente onda de estupros no Rio de Janeiro – alguns capturados em vídeo – lançam luz sobre as contradições não resolvidas de uma nação que caminha para se tornar uma potência mundial. O Brasil tem uma mulher na presidência, uma mulher no comando da polícia e uma mulher como chefe da Petrobras, e, no entanto, precisou que uma americana fosse estuprada em uma van para que as autoridades investigassem a fundo e prendessem os suspeitos no caso.
De certa forma, a experiência do Brasil reflete recentes acontecimentos na Índia e no Egito, onde ataques horríveis provocaram a indignação coletiva, revelando fissuras profundas em cada uma dessas sociedades. No Brasil, os casos de estupro em locais públicos desencadearam um debate sobre se as autoridades estão mais preocupadas em defender a imagem internacional do Rio de Janeiro e seus habitantes mais privilegiados do que em proteger as mulheres em geral.
É talvez paradoxal que o problema tenha surgido com tanta força no Brasil, um país que tem se esforçado para proteger e promover os direitos das mulheres. Há carros especiais para elas nos trens e metrôs, para evitar que sejam agarradas em vagões superlotados. Há delegacias especiais operadas somente por mulheres. E há uma visão geral de que as mulheres são iguais, plenamente capazes de liderar, mesmo nos cargos mais poderosos.
“Estamos vivendo uma situação esquizofrênica, em que avanços importantes foram conquistados, e mulheres alcançam posições de influência em nossa sociedade”, disse Rogéria Peixinho, diretora da Rede de Mulheres Brasileiras, um grupo de direitos humanos. “Ao mesmo tempo, a situação de muitas mulheres pobres permanece atroz.”
De fato, o debate público sobre a série de agressões sexuais no Rio de Janeiro era praticamente inexistente antes de uma estudante americana ser atacada violentamente no final de março, depois de embarcar em um van em Copacabana. A razão, alguns especialistas argumentam, é que as vítimas anteriores eram, em grande parte, pobres, o que reflete uma das lutas duradouras do Brasil: as divisões de classe extremas da sociedade.


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Homens acusados de estuprar uma turista americana haviam cometido o mesmo crime com brasileiras sem punição (Reprodução/Internet)

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