Desde que nasceu, há dois anos, uma criança vive com a mãe dentro de uma cela da Penitenciária Feminina de Teresina/PI, em função da falta de unidade materno-infantil no local. A menina tem manchas por todo o corpo e a doença é de difícil diagnóstico. “A mãe desconfia que seja o estresse da prisão”, relata o juiz Marcelo Menezes Loureiro, coordenador do Mutirão Carcerário que o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) realiza no Piauí.
A mulher em questão foi presa quando estava grávida, acusada de tráfico de drogas. Até hoje não foi julgada, por conta da demora na tramitação de seu processo. Segundo o juiz Marcelo Loureiro, essa lentidão é generalizada no Piauí, onde 70% dos cerca de 2.900 detentos são provisórios (ainda não julgados). É o maior índice do País. “Ouvimos relatos de pessoas que se disseram presas há mais de quatro anos, no regime fechado, sem julgamento”, informou o coordenador do mutirão.
A inspeção na Penitenciária Feminina de Teresina ocorreu na última sexta-feira (17/5), quando a equipe do CNJ constatou que a unidade dispõe de estrutura adequada e não é superlotada. O que chamou atenção foi o excesso de presas provisórias, que dividem o espaço com condenadas. O mesmo problema foi verificado, também na sexta-feira, durante inspeção na Penitenciária Regional de Teresina, onde 54% dos 379 detentos ainda não foram julgados. Muitos protestaram contra a demora no processo. Houve reclamações também sobre a água, que seria pouca e imprópria para consumo. Outra insatisfação é com a qualidade da comida. Não foi constatada superlotação na unidade.
Fiscalização – O Mutirão Carcerário no Piauí foi iniciado em 15 de maio e vai se estender até 14 de junho. Equipe formada por juízes, promotores, advogados e defensores públicos inspeciona unidades prisionais e reexamina processos relativos aos cerca de 2.900 detentos do estado. O objetivo é verificar as condições de encarceramento, avaliar as ações de reinserção social dos presos e fiscalizar a execução penal.
Os trabalhos que estão programados, entre outros objetivos, permitirão verificar se as autoridades piauienses atenderam às recomendações feitas pelo CNJ durante o Mutirão Carcerário realizado no estado em 2010. Pelo que se viu até agora, a redução do índice de presos provisórios, que está entre as recomendações, ainda não foi alcançada. Para o juiz Marcelo Loureiro, há a necessidade de o Judiciário local aprimorar seu sistema de informações processuais. Segundo ele, o alto índice de presos provisórios contribuiu para a superpopulação carcerária, gera gastos públicos desnecessários e compromete políticas de reinserção social dos presos.
O juiz coordenador, que nesta segunda-feira (20/5) inspeciona unidades prisionais do município de Parnaíba, disse reconhecer que o Poder Judiciário do Piauí tem tomado providências para tornar a tramitação dos processos mais célere. Uma das medidas anunciadas é a criação, pela Corregedoria-Geral de Justiça do estado, de uma central que vai reunir todos os inquéritos encaminhados pela polícia ao Judiciário.
Jorge Vasconcellos
Agência CNJ de Notícias
Agência CNJ de Notícias
Nenhum comentário:
Postar um comentário