Nove em cada dez presos mortos (90,4%) no terceiro pavimento do pavilhão 9 do Carandiru foram baleados com tiros na cabeça e no pescoço no massacre ocorrido em 2 de outubro de 1992.
Além disso, ao menos sete em cada dez detentos assassinados foram atingidos por munições diferentes ou com disparos efetuados de trajetórias distintas.
Os números foram apresentados pelo promotor Fernando Pereira da Silva durante a fase de debates que encerra nesta sexta-feira (2), no Fórum Criminal da Barra Funda (zona oeste de SP), o júri de 25 policiais militares acusados do massacre de presos.
Para a acusação, tanto os tiros em regiões de cabeça e pescoço como a quantidade de disparos e a diversidade de munições e trajetórias dos projéteis identificadas pela perícia seriam provas de que os detentos foram alvo de homicídio no terceiro pavimento. A defesa alega que foi em legítima defesa.Para o representante do Ministério Público no julgamento, os dados indicam homicídio sem chance de defesa às vítimas.
Silva apresentou aos jurados o resultado do laudo do IML (Instituto Médico Legal) feito à época nos corpos das vítimas.
Das 52 mortes atribuídas coletivamente aos 25 PMs, conforme os laudos de necropsia nos corpos, 47 ocorreram na cabeça e no pescoço.
Além disso, destacou o representante principal da acusação no júri, mais da metade dos mortos recebeu de dois a quatro tiros na cabeça e no pescoço.
Ao todo, segundo o IML, os 52 mortos receberam 243 disparos de armas de fogo --média de quase cinco por vítima.
Cerca de 70% das vítimas receberam disparos vindos de trajetórias distintas.
"Todos os réus disseram ter atirado, mas contra 'clarões e vultos'. Como então acertaram 90,4% das vítimas na cabeça e no pescoço, ou mais da metade com até quatro tiros, diante de clarões e vultos? Será que estava muito escuro [como os réus alegaram]? Ou será que [os réus] sempre mentiram?", questionou o promotor.
Último dia
O segundo júri de policiais militares da Rota (tropa de elite da PM) acusados de participação no "massacre do Carandiru" entrou hoje na reta final. Por volta de 10h30, acusação e defesa começaram os debates, nos quais apresentarão aos jurados a tese pela qual tentarão, respectivamente, condenar e absolver os réus. A sentença deve ser lida na madrugada de sábado (3).
Segundo o Tribunal de Justiça, Ministério Público e a defesa terão três horas para debater, cada um. Caso queiram, as partes terão ainda duas horas de réplica e tréplica cada. Se todo o tempo for utilizado, portanto, serão 10 horas de debates.
- Para o info inteiro – parte do julgamento + estrutura do Carandiru
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