sexta-feira, 3 de outubro de 2014

#MEDICINALEGAL: ENFORCAMENTO




1. DEFINIÇÃO:
"É a asfixia mecânica em que existe impedimento a livre entrada e saída do ar no aparelho
respiratório por uma constrição no pescoço feita por laço que é acionado pelo peso da própria vítima".

2. MECANISMO DE AÇÃO:

MODO DE EXECUÇÃO: preso o laço no seu ponto de apoio e passando ao redor do pescoço da
vítima e esta projetada no espaço.

a) Natureza do laço: gravata, lenço, toalha, cinta, fio de arame, ramos de árvore (cipó).

b) Nó: pode faltar, corrediço, frouxo, situado adiante, atrás ou em ambos os lados.

c) Ponto de suspensão: prego, batente da porta, porta entre aberta, ramo de árvore.

d) Modo de suspensão do laço: completa e incompleta.

PROGNÓSTICO:

a) Fenômenos que ocorrem durante o enforcamento:
- Dor local
- Interrupção da circulação cerebral: Zumbido, Calor na Cabeça, Sopros no Ouvido, Perda da
Consciência.
Fenômenos respiratórios (anoxemia, hipercapnéia, convulsões)
Parada respiratória e cardíaca (morte).
- Local: Dor, Afonia, Disfagia, Fenômeno de Congestão Pulmonar.
-Gerais: Convulsões, perturbações da consciência, amnésia e paralisia da bexiga.

c) Tempo necessário para morte:
Varia de acordo com as condições de cada caso. Em geral de 5' a 10'.

3. LESÕES EXTERNAS:

a) Aspecto do cadáver: cabeça inclinada para o lado do nó, rosto branco ou cianótico, boca e
narina com espuma, língua e olhos procedentes. No enforcamento completo, os membros inferiores
estão suspensos, e os superiores, colados ao corpo, com os punhos cerrados mais ou menos
fortemente.

b) Lesões externas: sulco conste geral / único ou mais de 1 ascendente, se interrompe no lugar do
nó. Este sulco pode estar ausente em situações especiais como nas suspensões de curta duração,
nos laços excessivamente moles ou quando é introduzido, entre o laço e o pescoço, um corpo mole.
SINAIS ENCONTRADOS NOS SULCOS DOS ENFORCADOS:
- Sinal de Ponsold: livores cadavéricos, em placas, por cima e por baixo das bordas dos sulcos.
- Sinal de Thoinot: zona violácea ao nível das bordas do sulco;
- Sinal de Azevedo Neves: livores puntiformes por cima e por baixo das bordas do sulco;
- Sinal de Neyding: infiltrações hemorrágicas puntiformes no fundo do sulco;
- Sinal de Ambroise Paré: pele enrugada e escoriada do fundo do sulco;
- Sinal de Lesser: vesículas sanguinolentas no fundo do sulco;
- Sinal de Bonnet: marcas da trama do laço.

4. LESÕES INTERNAS:

SINAIS LOCAIS :

Lesões da parte profunda da pele e da tela subcutânea do pescoço (sufusões hemorrágicas e
equimoses, por exemplo);

Lesões dos vasos: Sinal de Amussat (secção transversal da túnica íntima da artéria carótida
comum ao nível de sua bifurcação);

Sinal de Etienne Martin (desgarramento da túnica externa);

Sinal de Friedberg (sufusão hemorrágica da túnica externa da artéria carótida);

Lesão do Aparelho Laríngeo (fraturas da cartilagem tireóide e da cricóide, bem como do osso
hióide);

Lesões da coluna vertebral (fraturas ou luxações de vértebras cervicais).

SINAIS DOS PLANOS PROFUNDOS DO PESCOÇO:
-Musculares: infiltração hemorrágica dos músculos cervicais (sinal de Hoffmann-Haberda) e
rotura transversal, e hemorragia do músculo tiro-hióideo (Sinal de Lesser).
-Cartilagens e ossos: hióide -fratura do corpo (sinal de Morgagni-Valsava-Orfila-Roemmer);
tireóide
- fratura das apófises superiores (sinal de Hoffmann); fratura do corpo (sinal de Helwig); e
cricóide - fratura do corpo (sinal de Morgagni-Valsava-Deprez).
-ligamentos:ruptura dos ligamentos cricóideo e tireóideo (sinal de Bonnet)
-vasculares: carótida comum - ruptura da túnica íntima em sentido transversal abaixo da
bifurcação (sinal de Amussat-Divergie-Hoffmann); infiltração hemorrágica da túnica adventícia
(sinal de Friedberg); carótidas internas e externas - ruptura das túnicas adventícias (sinal de
Lesser); jugulares interna e externa - ruptura da túnica interna (sinal de Ziemke).
-neurológicos: ruptura da bainha mielínica da bainha do reto (sinal de Dotto).
-vertebrais: fratura da apófise odontóide do axis (sinal de Morgagni);
fratura do corpo de C1 e C2 (sinal de Morgagni); luxação da segunda vértebra cervical (sinal de
Ambroise Paré).
-faríngeo: equimose retrofaríngea (sinal de Brouardel-Vibert-Descoust).
-laríngeo: ruptura das cordas vocais (sinal de Bonnet).

SINAIS A DISTÂNCIA: São sinais encontrados nas asfixias em geral, como congestão
polivisceral, sangue fluído e escuro, pulmões distendidos, equimoses viscerais e espuma
sanguinolenta na traquéia e brônquios.
Mecanismo da morte por enforcamento:
-Hoffmann fundamenta a morte por enforcamento em 3 princípios:
*Morte por asfixia mecânica;
*Morte por obstrução da circulação: neste caso o mais importante seria a obstrução ao nível das
carótidas acarretando perturbações cerebrais pela anóxia.
*Morte por inibição devido à compressão dos elementos nervosos do pescoço: a compressão seria
principalmente sobre o nervo vago.

5. DIAGNÓSTICO:
O diagnóstico é feito principalmente na identificação do sulco característico ao nível do pescoço,
identificação dos fenômenos relacionados com a asfixia, bem como, da posição do cadáver;
somando-se a isto, convém estudar e analisar a presença das alterações externas e internas já
citadas anteriormente.

6. PROGNÓSTICO:

a) Fenômenos apresentados durante o enforcamento:

I- período inicial - começa quando o corpo, abandonado e sob a ação do seu próprio peso, leva,
pela constricção do pescoço, à sensação de calor, zumbidos, sensações luminosas na vista e perda
da consciência produzidos pela interrupção da circulação cerebral.

II- segundo período - caracteriza-se pelas convulsões e excitação do corpo proveniente dos
fenômenos respiratórios, pela impossibilidade de entrada e saída de ar, diminuindo o oxigênio e
aumentando o gás carbônico; associa-se a estes fenômenos a pressão do feixe vásculo-nervoso do
pescoço, comprimindo o nervo vago.

III- terceiro período - surgem os sinais de morte aparente, até o aparecimento da morte real, com
cessação da respiração e da circulação.

b) Fenômenos da sobrevivência:
- Há alguns que, ao serem retirados ainda com vida, morrem depois sem voltar à consciência
devido ao grande sofrimento cerebral pela anóxia;
- Outros que mesmo recobrando a consciência, tornam-se fatais algum tempo depois;
- Alguns sobrevivem acompanhados de uma ou outra desordem. Estas manifestações podem ser
locais ou gerais:

*LOCAIS: O sulco, tumefeito e violáceo, escoriando ou lesando profundamente a pele; dor, afasia
e disfagia referente à compressão dos órgãos cervicais e congestão dos pulmões.

*GERAIS: Referentes aos fenômenos asfíxicos e circulatórios, levando, às vezes, ao coma,
amnésia, perturbações psíquicas ligadas à confusão mental e à depressão; paralisia da bexiga, do
reto e da uretra.

c) Tempo necessário para a morte no enforcamento: A morte pode ser rápida por inibição ou
demorar de 5 a 10 minutos.

7. NATUREZA JURÍDICA:
É mais comum nos suicídios, podendo, no entanto, ter como etiologia o acidente, o homicídio e a
execução judicial.

8. PERÍCIA:
A perícia busca inicialmente a identificação do indivíduo e a coleta de informações no que se
refere a determinação do estado de morte, a hora da morte, identificação dos fatores que ajudem
quanto a determinação da natureza jurídica (acidente, homicídio ou suicídio).














Fonte:UFA








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