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Presídio em Manaus (à esq.), cadeia nos EUA e integrante do PCC envolvido em sequestro em 2006: gangues se tornaram 'governo paralelo' em presídios, diz professor
O trabalho de um economista de 34 anos está sendo visto como a melhor tentativa em muito tempo de explicar como as gangues dominam prisões pelo mundo, da Suécia à Bolívia.
O americano David Skarbek, professor do King's College de Londres, usa ferramentas da economia - como a chamada teoria da escolha racional - para mostrar como esses grupos se formam e regulam o crime dentro e fora dos presídios.
O livro de estreia de Skarbek recebeu em junho o prêmio de melhor livro de economia política dos últimos três anos, oferecido pela prestigiada Associação Americana de Ciência Política.
Lançado pela Universidade de Oxford e ainda sem tradução no Brasil, The Social Order of the Underworld - How Prison Gangs Govern the American Prison System(A Ordem Social do Submundo - Como Gangues de Prisões Governam o Sistema Prisional Americano, em tradução livre) desafia a noção comum que vê as gangues de prisões americanas como bandos criados por presos apenas para promover racismo e violência.
Pelo contrário: tais grupos, afirma ele, se mantêm exatamente para criar ordem e lucrar onde o Estado não quer ou não consegue atuar.
Das gangues étnicas da Califórnia (Máfia Mexicana, Irmandade Ariana, Família Negra) ao PCC (Primeiro Comando da Capital) no Brasil, o pesquisador descreve no livro e em outros estudos organizações sofisticadas que criam hierarquias, controlam o contrabando nas prisões e solucionam conflitos internos.
Como sujeitos econômicos racionais, sustenta Skarbek, esses grupos fazem tudo isso por um motivo básico: dinheiro. Por ele, vale até moderar o uso da violência.
"Quando as prisões estão calmas e estáveis, as gangues fazem muito dinheiro. Elas podem vender drogas quando não há confusões em larga escala, então têm incentivo para prevenir homicídios e rebeliões. Elas querem lucrar e reconhecem que mantendo certa ordem podem fazer isso", afirmou Skarbek em entrevista à BBC Brasil em Londres.
Isso permite entender, diz ele, como lugares em que a população carcerária explodiu passaram a ter sistemas prisionais mais "calmos", com menos motins e homicídios.
Um retrato desse fenômeno, diz Skarbek, se dá na Califórnia, foco principal de sua pesquisa. O Estado americano quintuplicou sua população carcerária desde 1970 (de 25 mil para 130 mil), mas a taxa de assassinatos de presos caiu quase 100% no mesmo período, que coincide com o boom das gangues.
Ou em São Paulo, também alvo dos estudos de Skarbek, que diz ver sentido na hipótese que identifica o PCC como principal responsável pela queda de 73% nos homicídios no Estado desde 2001 - nessa interpretação, a facção transpôs às ruas as regras de controle da violência que criara nas cadeias.
BCC
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