terça-feira, 21 de agosto de 2012

Quadro do “CQC” sobre pedofilia imita programa americano acusado de provocar um suicídio



Polêmico, o quadro sobre pedofilia exibido pelo “CQC” na noite de segunda-feira é uma cópia de um trabalho exibido na TV americana há quase dez anos.
Entre 2004 e 2007, o repórter Chris Hansen, da NBC, realizou onze grandes reportagens sobre pedofilia, sob o título “To Catch a Predator”, que resultaram em inúmeras prisões, investigações criminais e um suicídio, além de levantar muitas dúvidas éticas sobre o seu trabalho.
Com a ajuda de uma organização chamada Perverted Justice, Hansen e a equipe do programa “Dateline” promoviam conversas pela internet de homens adultos interessados em sexo com supostas mulheres menores de idade.
Em alguns Estados americanos, conversas desta natureza com alguém que se identifica como menor configura crime, mesmo que a pessoa não tenha a idade que declarou.
Quando as conversas nas salas de bate-papo evoluíam, encontros eram marcados para locais reais, monitorados por câmeras escondidas da equipe do programa. Hansen, então, aparecia diante do homem que esperava se encontrar com uma menor de idade e o entrevistava.
Nos primeiros programas da série, sem acompanhamento policial, os homens que caíram na armadilha foram autorizados a ir embora depois de falar com o repórter. A NBC, porém, entregou à Justiça todo o material coletado.
A partir de um determinado momento da série, muitos foram presos – com as cenas devidamente registradas pelo programa.
Em novembro de 2006, um procurador se suicidou no Texas depois de ter sido gravado em conversas com um suposto garoto de 13 anos. O homem não chegou a comparecer ao encontro marcado, mas, ao ser procurado em casa pela polícia, se matou. O caso resultou num processo de US$ 105 milhões contra a NBC.
Em 2011, o próprio Hansen foi alvo de uma polêmica, depois que o jornal sensacionalista “The National Enquirer” afirmou ter filmado e gravado conversas suas combinando um encontro com uma mulher, apesar de ser casado.
Nesta segunda-feira, o “CQC”, da Band, reeditou “To Catch a Predator” no seu “Documento da Semana”. O programa mostrou uma atriz de 19 anos se fazendo passar por uma garota de 14 em conversas na internet.
Um sujeito marcou um encontro com “Carolzinha” e combinou encontrá-la num apartamento. O abusador em potencial carregava uma sacola com cervejas e camisinhas. Ele não foi identificado e o seu rosto distorcido pela Band.
No lugar da moça, o homem encontrou o repórter Ronald Rios e mais alguém da produção da Band. Intimidado, pediu desculpas. “Foi um erro meu mesmo”. Rios disse: “Sai agora que você tá com sorte. Você nunca mais faz uma merda dessas”.
Depois de exibida a reportagem, Marco Luque e Oscar Filho fizeram comentários cômicos sobre o fato. Marcelo Tas disse esperar que a exibição ajude a mostrar “a fragilidade hoje da internet”.
Assim como Hansen e sua equipe, o “CQC” deixou claro para o público, desde o início, que se tratava de uma armação. Ronald Rios também explicitou sua condição de repórter diante do homem que esperava se encontrar com uma menor.
Esses esclarecimentos são importantes, mas não resolvem outros problemas levantados pelo quadro. O maior de todos, creio, é o fato de ser uma situação irreal, criada com a intenção de incriminar alguém.
Sempre se poderá dizer que iniciativas como essa ajudam a intimidar possíveis abusadores. É verdade, mas não creio que essa seja uma função do jornalismo.
Fonte: Uol

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