Preto Amaral assombrou a São Paulo dos anos 20 com seus crimes de estrangulamento, morte e estupro. Nessa ordem
Numa bela tarde de 1927, o rapazinho Antônio Lemos passeava pelos agitados arredores do Mercado Municipal de São Paulo quando foi abordado por um senhor negro, que se ofereceu para lhe pagar um almoço. Conversa vai, conversa vem, os dois partiram num bonde rumo à Lapa. Foi o último bonde de Antônio, a terceira vítima do Preto Amaral, que entrou para a história nacional da infâmia como o primeiro serial killer brasileiro.
Nascido no interior mineiro em 1871, José Augusto do Amaral era filho de escravos. Livre aos 17 anos, quando a princesa Isabel assinou a Lei Áurea, entrou para o Exército. Era uma das poucas ocupações disponíveis para ele num país ansioso de ser embranquecido por imigrantes.
Depois de rodar o Brasil como voluntário da pátria, aos 56 anos Amaral estava vivendo de bicos em São Paulo. Tinha tudo para morrer no anonimato até que, em 1927, foi preso, acusado de 3 homicídios. Confessou todos. Segundo seu depoimento, ele seduzia, depois asfixiava, para então estuprar o cadáver das vítimas – todos homens. A imprensa delirou; os jornais traziam manchetes sobre o “monstro negro”, o “diabo preto”, o “estrangulador de crianças”.
Na verdade, Antônio Sanches, a primeira vítima, já contava 27 anos. Em seu depoimento, Amaral afirma que o encontrou nos arredores da praça Tiradentes e que a vítima lhe pediu fósforos. Depois de tomarem café num botequim próximo, Amaral teria convidado o rapaz para ver um jogo de futebol. O corpo foi encontrado próximo do aeroporto do Campo de Marte, na zona norte.
A vítima seguinte, José Felippe Carvalho, tinha 10 anos quando morreu, na véspera do Natal de 1926. Amaral atraiu o menino dando de presente alguns dos balões que vendia na região do Canindé. José foi encontrado 13 dias após a morte, já sem os membros superiores. Antônio Lemos, o rapaz do bonde, tinha 15 anos. Quando seu corpo foi localizado, a polícia se deu conta de que São Paulo tinha um assassino serial.
Amaral só foi capturado graças a Roque Piccili, um engraxate de 9 anos. Ele levou o menino para debaixo de uma ponte e estava estrangulando o coitado quando ouviu vozes, se assustou e fugiu. Ao retornar, não encontrou a quase vítima, que a essa hora já estava na delegacia mais próxima delatando seu quase assassino.
Consta que os jornais continuaram a noticiar homicídios semelhantes, mesmo depois da prisão de Amaral, aumentando sua lenda. Frustrando a população, que clamava por linchamento ou uma execução, Amaral morreu de tuberculose antes de ser julgado, 5 meses após a prisão, na cadeia pública de São Paulo.
Grandes momentos
• Encartada no processo criminal nº 1670/1927, a avaliação do psiquiatra que examinou Amaral leva em consideração seu pênis grande como “indício de sua bestialidade”. Na época, era comum relacionar o tamanho do pênis do criminoso com o tamanho do crime.
• O caso de Amaral rendeu livros, tese de mestrado e peça de teatro. Na ala dedicada aos criminosos sexuais no Museu do Crime, em São Paulo, ele aparece com destaque.
• Amaral serviu no Brasil inteiro: Rio Grande do Sul, Bahia, São Paulo, Rio de Janeiro, Goiás e Mato Grosso – na Guerra de Canudos (1897), chegou a tenente.
Super
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